A lógica do trabalhador, no SBBA e na Câmara

Nesta entrevista, Augusto Vasconcelos, 42 anos, advogado, professor universitário em Direito e mestrado em Políticas Sociais, fala sobre desafios da categoria e da democracia social para 2024, como a campanha salarial dos Bancários e a eleição municipal. 

Liderança do movimento estudantil no início dos anos 2000, com participação direta em importantes conquistas da sociedade, especialmente a partir do primeiro governo progressista de Lula (2003), o presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Sérgio Vasconcelos de Oliveira, não tem a menor dúvida de que o fato de ele exercer o mandato de vereador em Salvador, pelo PCdoB, contribui, e muito, para facilitar os interesses da categoria.


Nesta entrevista, Augusto Vasconcelos, 42 anos, advogado, professor universitário em Direito e mestrado em Políticas Sociais, fala sobre desafios da categoria e da democracia social para 2024, como a campanha salarial dos Bancários e a eleição municipal. 

 

Por Rogaciano Medeiros
 


O Bancário - Até que ponto o mandato de vereador que você exerce em Salvador pode contribuir para reforçar a luta dos bancários?
Augusto - O nosso mandato é uma expressão da classe trabalhadora dentro do Parlamento e os bancários estão inseridos nesse contexto. Acredito na nossa presença, que faz enfrentamento ao setor mais poderoso da economia, na defesa dos interesses dos trabalhadores do setor, mas também da população que sofre muito com as práticas abusivas dos bancos. Ter um mandato na Câmara faz com que os bancários tenham visibilidade para suas pautas e consigam expressar seu posicionamento que muitas vezes não aparece na grande mídia, assegurando que nós tenhamos a oportunidade de debater as questões da cidade, mas se relacionando com grandes temas do país.


O Bancário - Como tem sido possível compatibilizar o mandato de vereador com as funções de presidente do Sindicato? 
Augusto - Eu sou uma pessoa que trabalha muito e aposto também na construção coletiva, tanto no mandato de vereador e, principalmente, no Sindicato dos Bancários. Temos aqui equipes excelentes nas duas situações e acredito que este esforço conjunto de várias pessoas tem colaborado para a gente fazer bons mandatos tanto no Sindicato quanto na Câmara Municipal. Não é à toa que somos considerados um dos vereadores mais atuantes da Cidade e a própria categoria, em diversas pesquisas que já fizemos, tem tido um grau de satisfação alto com a atual gestão do Sindicato. Busco fazer as coisas com muita transparência e dedicação, durmo tarde e acordo cedo e tenho a compreensão de que temos uma missão de lutar por causas coletivas. De algum modo, o mandato na Câmara e a presidência do Sindicato confluem para o mesmo objetivo, que é transformar a sociedade brasileira no sentido de garantir justiça social e enfrentar as desigualdades. Por isto que muitas vezes a atuação na Câmara tem uma conexão direta com a presidência do Sindicato que, ao contrário de dificultar, facilita e potencializa a nossa atuação.


 O Bancário - Você pode citar um caso ou casos concretos em que o cargo de vereador foi decisivo para conquistas da categoria em Salvador?
Augusto - Acho que a coisa mais importante que nós conquistamos foi a vacinação da categoria como grupo prioritário, em um cenário difícil para os trabalhadores, alvo de ataques do governo Bolsonaro. O mandato de vereador foi fundamental para a gente acessar espaços. Eu apresentei projeto de indicação na Câmara, que foi aprovado, batalhamos no Ministério da Saúde, fomos a Brasília e reunimos om o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira, que acelerou a tramitação do projeto, que também tramitava na Casa, e conseguimos a partir desta articulação colocar a categoria, que não parou em nenhum momento na pandemia, para que fosse vacinada. Acho que foi uma das questões centrais. 


O Bancário - Isto em uma conjuntura difícil, marcada por ataques do governo Bolsonaro aos trabalhadores.
Augusto - Com certeza, a gente conseguiu inclusive colocar em prioridade de votação, foi bem difícil, foi uma construção, talvez se eu não estivesse eleito vereador a nossa força para tratar dessas questões seria menor, porque eu percebi lá como mudava a relação e acolhimento das nossas demandas quando no Parlamento a gente também era apresentado como parlamentar, então tinha uma certa mudança, não que eu gostasse disso, mas o fato é que  abria portas e caminhos, facilitou o diálogo institucional para a gente poder viabilizar a vacinação.
Mas tivemos uma atuação destacada na pauta das portas com detectores de metal, que os bancos querem tirar das agências, da manutenção do emprego de vigilantes com diversas unidades que estão sendo transformadas e estão excluindo esses trabalhadores. Eu apresentei um projeto sobre o tema na Câmara Municipal, além de outros que não dizem respeitos apenas aos bancários, mas que afeta diretamente os bancários e um conjunto de trabalhadores da nossa cidade como são as pautas do IPTU, luta do transporte público e a batalha que a gente tem travado pela questão ambiental. Então, tudo isso tem ligação direta com a categoria, ainda que não seja só com a categoria.


O Bancário - Quais as perspectivas para as forças progressistas na eleição municipal deste ano em Salvador e no conjunto do Brasil?
Augusto - Eu tenho muita esperança que em 2024 o Brasil retome o caminho do crescimento econômico, sobretudo porque o governo Lula pavimenta sentidos para a gente poder ampliar as oportunidades de geração de renda, então tem feito esforços para pressionar o Banco Central a reduzir a taxa de juros e tem a aprovação da reforma tributária, que eu acho que melhora o ambiente de negócios, Há uma nova percepção do Brasil no cenário internacional, o que possibilita trazer novos investimentos. Então, eu tenho muita esperança que 2024 seja melhor do que 2023 e com isso, evidentemente, a percepção da sociedade mude. Mas, não tenho nenhuma ilusão em relação as dificuldades que enfrentaremos ainda. A ultradireita encontra-se com influência na sociedade e enfrentar essas  questões significa debater os rumos do país. Nós vamos precisar estar nas redes, nas ruas, nos espaços institucionais consolidando essas opiniões de que a sociedade precisa de distribuição de renda, inclusão dos mais pobres no orçamento, enfrentar as desigualdades regionais e todas as formas de opressão e lutar para que a gente tenha um crescimento econômico que seja sustentável e garanta que as pessoas tenham oportunidade de trabalho.


Em Salvador, acredito que a unidade do campo que levou Jeronimo a vitória do governo do Estado é fundamental para a gente apresentar um outro projeto de cidade. Salvador é uma das cidades mais desiguais do país, a capital nacional do desemprego e vem perdendo posições para Fortaleza, que já nos ultrapassou como capital nordestina em termos econômicos. Recentemente, Salvador caiu da 12ª para a 14ª posição do PIB nacional entre os municípios brasileiros, o que é lamentável e revela também que a forma de gerir a nossa cidade está em descompasso com as necessidades do nosso povo, que inclusive tem saído da cidade. Salvador perdeu população. Temos que apresentar um projeto inovador para a cidade, que não aposte só em turismo e entretenimento, áreas importantes, mas que não dão a sustentabilidade do desenvolvimento econômico. Precisamos, sim, de investimentos nestas duas áreas, mas precisamos ampliar com indústrias criativas e com possibilidades ambientais, porque Salvador tem potenciais enormes. Temos a maior orla entre as capitais brasileiras, subaproveitadas, basta dizer que boa parte dos pescados que consumimos em Salvador vem de fora da cidade ou fora do Estado, o que revela que temos uma potencialidade enorme, não aproveitada. Precisamos de políticas públicas que olhem principalmente para a população mais pobre, que é a imensa maioria do nosso povo. Acredito que a gente precisa apresentar estas iniciativas e o povo que deu uma vitória esmagadora a Lula nas eleições passadas precisa perceber que nós temos um campo político que pode apresentar uma alternativa para que a cidade volte a dar esperança para a nossa população.
 
O Bancário - O que os trabalhadores e os bancários podem esperar para 2024?

Augusto - Teremos um ano desafiador né, ano de batalhas pela renovação da nossa Convenção Coletiva de Trabalho, que é a maior da América e que contém uma série de direitos de conquistas de grandes manifestações e paralisações ao longo da história e renovar essa Convenção tem sido cada vez mais difícil no pós reforma trabalhista, de modo que o Sindicato já tem planejamento com conferências, assembleias, encontros regionais e encontros temáticos, além da pesquisa que faremos com a categoria para identificar as principais demandas dos trabalhadores e trabalhadoras, no intuito de preparar uma boa campanha salarial, que não trata só de salário mas também de condições de trabalho, valorização profissional e defesa do emprego. Além disso, teremos eleições municipais. É fundamental que tenhamos como horizonte a eleição de vereadores e vereadoras, além de prefeitos e prefeitas, comprometidos com a nossa pauta. Não podemos ser ingênuos, os bancos disputam os rumos do país e nós bancários e bancárias precisamos fazer o nosso contraponto, apresentando o nosso ponto de vista e disputando os rumos das cidades para pavimentar os caminhos para disputas futuras no Congresso Nacional, daqui a 2 anos. Eu tenho esperança que em 2024 a gente possa eleger uma grande bancada parlamentar nas cidades do interior e aqui em Salvador, que aponte caminhos, e confio que os bancários terão papel decisivos nesta empreitada que teremos ao longo deste ano.