Entrevista - Elder Perez - “A impunidade reforça o fascismo"
Funcionário do Bradesco, diretor da entidade há 26 anos, psicólogo formado pela Faculdade Estácio de Sá, Elder Fontes Perez, 54 anos, que acaba de assumir a presidência do Sindicato dos Bancários da Bahia, devido à indicação de Augusto Vasconcelos para a Setre (Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte), é terminantemente contra a anistia para os culpados pelas tentativas golpistas tramadas pelo governo Bolsonaro.
Por Rogaciano Medeiros
Funcionário do Bradesco, diretor da entidade há 26 anos, psicólogo formado pela Faculdade Estácio de Sá, Elder Fontes Perez, 54 anos, que acaba de assumir a presidência do Sindicato dos Bancários da Bahia, devido à indicação de Augusto Vasconcelos para a Setre (Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte), é terminantemente contra a anistia para os culpados pelas tentativas golpistas tramadas pelo governo Bolsonaro.
O Bancário - Por maior que seja a identidade política, cada pessoa tem suas subjetividades. O que a categoria pode esperar de Elder Perez na presidência do Sindicato dos Bancários da Bahia em substituição a Augusto Vasconcelos?
Elder Perez - É bom lembrar que, como vice, substitui Euclides Fagundes, que fez história e mudou os rumos do Sindicato dos Bancários da Bahia. E agora substituo a maior revelação política dos últimos anos no Estado, que é Augusto Vasconcelos. É um grande desafio, mas também a certeza e a tranquilidade de caminhar por uma via muito bem pavimentada por eles e por todos(as) que passaram e que hoje compõem a direção do Sindicato. Portanto, estou entusiasmado e comprometido com a possibilidade de dar continuidade ao belo trabalho realizado ao longo dos anos. Sei que, coletivamente, com uma diretoria testada e aprovada, conseguiremos dar saltos importantes para a categoria, fortalecendo ainda mais a unidade, pilar fundamental na defesa dos interesses dos bancários e bancárias.
O Bancário - Em uma categoria com tanta gente com doença mental, como um psicólogo na presidência do Sindicato pode ajudar?
Elder Perez - Essa é uma questão extremamente preocupante e que está na ordem do dia. A categoria vem, de modo crescente, adoecendo e, consequentemente, fazendo uso de medicação psiquiátrica, como nunca antes na história. É fundamental trabalharmos para intensificarmos medidas de prevenção e combate aos elementos adoecedores que estão presentes no cotidiano dos bancários, como o excesso de trabalho e cobranças por resultados, o assédio moral, etc. Precisamos discutir e implementar medidas estruturantes capazes de alterar a atual psicodinâmica do trabalho bancário. Temos elementos importantes, como as NRs (Normas Regulamentadoras) que trazem aspectos sobre segurança psicológica e ergonomia cognitiva; a classificação da Síndrome de Burnout como doença ocupacional na CID 11, em 2022; a inclusão na nossa CCT do assédio moral como violência no trabalho, etc. Tudo isso pode pressionar os bancos a adotarem postura adequada para os funcionários. A Bahia dá contribuições nesse sentido e adianto que 2025 será um ano intenso no que diz respeito à saúde mental dos bancários em âmbito nacional. Como diria Christophe Dejours, o adoecimento dos(as) trabalhadores(as) provocado pelo trabalho é coletivo e coletivamente precisa ser combatido.
O Bancário - A categoria perde um representante na Câmara de Salvador, o vereador Augusto Vasconcelos, que assumiu a Secretaria do Trabalho, Emprego e Esporte do governo estadual. Quais as implicações disto para os bancários?
Elder Perez - É uma perda à serviço da ampliação. Vejo como uma "saída" que se soma, pois trata-se da ida de um bancário para atuar em outra instância com abrangência maior, levando consigo uma vasta experiência acumulada. Para nós, a indicação é o reconhecimento de um trabalho de excelência desenvolvido por Augusto e por um coletivo. Nós, militantes dos movimentos sociais somos causa e consequência, ou seja, na medida que ajudamos a construir os movimentos, também somos construídos por eles. Augusto acumulou experiência suficiente para fazer um bom trabalho à frente dessa importante secretaria que é a SETRE. A indicação é motivo de orgulho para nós e certamente teremos projetos que visem a geração de emprego e renda melhorando as condições de vida da população.
O Bancário - Retomando a luta sindical, classista, você acredita que já no Imposto de Renda de 2026 o trabalhador que ganha até R$ 5 mil, grande parte dos bancários, já estará isento?
Elder Perez - A medida de isenção de imposto de renda para salários até esse valor beneficia milhões de trabalhadores(as). Uma parte da categoria também. Mesmo que a média salarial dos bancários esteja próxima ao teto do valor da isenção, temos colegas que estão abaixo da média. Além disso, vivenciamos a realidade de novas contratações que entram com remunerações menores do que os funcionários com mais tempo. Essa é uma questão importante a se considerar, visto que os bancos muitas vezes substituem trabalhadores de salários mais altos por aqueles com remuneração menor. A nossa luta na categoria sempre esteve marcada também pela elevação das verbas salariais.
O Bancário - E no plano político, o que esperar para 2025? A PGR vai denunciar mesmo Bolsonaro? Os golpistas serão presos?
Elder Perez - Há expectativa em grande parte da sociedade para que a denúncia saia e a justiça seja feita. É preciso reverter um lamentável histórico de impunidade contra os agressores da democracia. Essa impunidade também contribuiu para o ressurgimento das ideias fascistas por aqui. É preciso virar essa triste página da história com as punições. Nos dias de hoje, é impensável impunidade para aqueles que atentaram contra esse patrimônio civilizatório que é a democracia.
O Bancário - A democracia ainda corre risco no Brasil?
Elder Perez - Acredito que a chama para manter o estado democrático de direito deve se manter acesa na forma de vigilância permanente. Ainda que os símbolos do autoritarismo e do fascismo venham a ser presos, o bolsonarismo existe. Se a democracia for considerada um obstáculo para a manutenção de privilégios dos que se acham "donos do poder", certamente eles não medirão esforços para bani-la. Testemunhamos o que a junção do conservadorismo político com o ultraliberalismo econômico tentou fazer sem o mínimo de pudor e sem nenhum escrúpulo no dia 08 de janeiro. Conforme as investigações se aprofundam e, de acordo com fatos e descobertas recentes, fica evidente o que essa turma é capaz de fazer. Portanto, punição sem anistia para os culpados.