A fábula da meritocracia
No Brasil, a regra é clara: quem nasce sem grana, nasce também sem acesso à leitura. E quando a sociedade falha, a escola vira depósito de criança e não formadora de cidadãos críticos. Mesmo assim, se insiste na fábula da meritocracia, como se apenas esforço pessoal seja capaz de vencer a desigualdade brutal de um país onde livro é artigo de luxo e tempo para estudar é privilégio.
Por Camilly Oliveira
No Brasil, a regra é clara: quem nasce sem grana, nasce também sem acesso à leitura. E quando a sociedade falha, a escola vira depósito de criança e não formadora de cidadãos críticos. Mesmo assim, se insiste na fábula da meritocracia, como se apenas esforço pessoal seja capaz de vencer a desigualdade brutal de um país onde livro é artigo de luxo e tempo para estudar é privilégio.
Os dados não deixam dúvidas: entre os alunos do 4º ano com renda familiar alta (acima de R$ 15 mil), 83,9% têm desempenho acima da média em leitura. Entre os mais pobres, que vivem com menos de R$ 4 mil, só 26,1% chegam lá.
A diferença é de 58 pontos percentuais, a maior entre os países avaliados pelo estudo internacional PIRLS (Estudo Internacional de Progresso em Leitura), feito no Brasil em 2021 e analisado pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional). Não é coincidência, é estrutura.
Em geral, apenas 5% dos estudantes estão na faixa de maior renda, e são exatamente estes que detêm os melhores resultados. As famílias brasileiras fazem milagre para manter os filhos na escola, mas jamais terão as mesmas condições de quem tem biblioteca em casa, pais leitores, internet 5g e aulas de reforço à vontade.
Ninguém vira leitor em um país onde escola pública não tem livro, criança entra no ensino fundamental sem ter visto uma história infantil, e se aprende mais na fila do posto de saúde do que na sala de aula. O Brasil falha porque decidiu que apenas alguns podem saber ler e o resto, que se contente com o silêncio.