A negritude nas ruas de Salvador
Na cidade considerada capital da cultura negra, a maioria da população preta vive à margem e mais de 90% dela, literalmente, nas ruas. O novo censo da Prefeitura revela: entre os 5.130 moradores em situação de rua, 93% são negros.
Por Camilly Oliveira
Na cidade considerada capital da cultura negra, a maioria da população preta vive à margem e mais de 90% dela, literalmente, nas ruas. O novo censo da Prefeitura revela: entre os 5.130 moradores em situação de rua, 93% são negros.
Os dados, levantados em parceria com a UFBA (Universidade Federal da Bahia), Projeto Axé e Movimento Nacional da População de Rua, rasgam a fantasia de cidade acolhedora para mostrar o que realmente caracteriza Salvador, a desigualdade racial.
A maioria esmagadora perdeu tudo enquanto tentava sobreviver. Trabalhar, fugir da violência doméstica ou lidar com luto foram os motivos mais citados. Quase 30% saíram de casa buscando renda e acabaram sem teto. Outros 26% fugiram de maus tratos.
São histórias atravessadas pela pobreza e marcadas pela cor da pele. Nada disto é acaso. É política não escrita, mas aplicada com rigor: manter o povo preto longe dos direitos mais básicos.
O programa “Vida Nova” da Prefeitura de Salvador vem com promessas milionárias e ações assistenciais. Kit casa, auxílio alimentação, cursos, abrigos. Tudo parece correto e ao mesmo tempo insuficiente. Porque nenhuma ação será real enquanto não se reconhecer que o problema tem cor, endereço e origem histórica.
Não se enfrenta a desigualdade sem nomeá-la. E em Salvador, capital da negritude, não há mais espaço para neutralidade. Ou se combate o racismo ou a cidade continuará “vendendo cultura”, enquanto enterra o povo na invisibilidade.