Brasil, entre enchentes e secas
Em 30 anos, mais de 3.400 vidas foram perdidas por eventos hidrológicos extremos no Brasil. De um lado, chuvas devastam cidades inteiras no Sul, do outro, secas prolongadas castigam o Nordeste até virar pó. A crise é climática, mas o impacto é político, social, pois atinge os mais pobres, nas periferias abandonadas e nos sertões esquecidos, onde o Estado sempre chegou por último, isto é, quando chega.
Por Camilly Oliveira
Em 30 anos, mais de 3.400 vidas foram perdidas por eventos hidrológicos extremos no Brasil. De um lado, chuvas devastam cidades inteiras no Sul, do outro, secas prolongadas castigam o Nordeste até virar pó. A crise é climática, mas o impacto é político, social, pois atinge os mais pobres, nas periferias abandonadas e nos sertões esquecidos, onde o Estado sempre chegou por último, isto é, quando chega.
Dados do Instituto Trata Brasil, em conjunto com a GO Associados, mostra o colapso de quase 26 mil desastres registrados de 1991 a 2023, dos quais, 74% por excesso de chuva. O prejuízo total é de R$ 151 bilhões. Pior, 32% por cento dos municípios não possuem drenagem urbana.
No Nordeste, a seca histórica de 2012, uma das piores do século, revelou a face mais cruel da negligência: cidades inteiras sem água, lavouras arruinadas e populações deslocadas. Hoje, 98,6% dos municípios da região continuam sem qualquer plano para lidar com a chuva ou com a falta do fenômeno.
O descaso vem de longe. Mesmo em estados ricos, como São Paulo, quase metade dos municípios ainda não possui planejamento adequado. O Censo 2022, mais recente, mostrou que 93,6 milhões de brasileiros vivem em ruas com drenagem mínima, o que significa que a maioria ainda enfrenta o caos sem proteção. Universalizar o saneamento e o manejo das águas exige investimento e vontade política.