A vitrine da desigualdade

O Brasil ultrapassou a marca de 335 mil pessoas em situação de rua, segundo estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A maioria vive no Sudeste. O dado, que deveria escandalizar, reafirma o fracasso histórico em garantir dignidade à população pobre. Moradia virou mercadoria inacessível e a cidade, campo de sobrevivência.

Por Camilly Oliveira

O Brasil ultrapassou a marca de 335 mil pessoas em situação de rua, segundo estudo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A maioria vive no Sudeste. O dado, que deveria escandalizar, reafirma o fracasso histórico em garantir dignidade à população pobre. Moradia virou mercadoria inacessível e a cidade, campo de sobrevivência.

 


A desigualdade não se esconde mais, acampa nos grandes centros. A Avenida Faria Lima, maior símbolo do capital financeiro na América Latina, é retrato paradoxal da realidade. Entre arranha-céus e escritórios de luxo, famílias inteiras vivem nas calçadas, expostas à violência, fome e indiferença. O contraste escancara a falência de um modelo econômico que concentra riqueza e marginaliza os mais vulneráveis.

 


Dados da UFMG mostram que 84% das pessoas em situação de rua são homens, 16% mulheres, e a maioria possui entre 18 e 59 anos. Além disto, 52% não concluíram o ensino fundamental, e sete em cada 10 são negras.

 


O fenômeno é estrutural. Nasce do racismo, da negação histórica de direitos à população negra, da precarização do trabalho e da especulação imobiliária. Resolver a tragédia vai muito além cobertores e marmitas. É necessário confrontar os alicerces que mantêm intacto o abismo social.

 


Sem política habitacional de verdade, sem emprego com direitos, sem acesso pleno à educação, a rua se transforma em destino.