O cinema como reparação
O poder do cinema de influenciar, profundamente, a realidade, traz à tona questões políticas e sociais muitas vezes abafadas, como agora, no caso do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. A obra, que retrata a luta de Eunice Paiva para entender o desaparecimento, em 1971, do marido, então deputado federal Rubens Paiva (PTB), durante a ditadura civil-militar (1964-1985), revive uma memória coletiva esquecida, ao mesmo tempo em que questiona a política de “anistia ampla, geral e irrestrita” que silenciou famílias por décadas.
Por Camilly Oliveira
O poder do cinema de influenciar, profundamente, a realidade, traz à tona questões políticas e sociais muitas vezes abafadas, como agora, no caso do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. A obra, que retrata a luta de Eunice Paiva para entender o desaparecimento, em 1971, do marido, então deputado federal Rubens Paiva (PTB), durante a ditadura civil-militar (1964-1985), revive uma memória coletiva esquecida, ao mesmo tempo em que questiona a política de “anistia ampla, geral e irrestrita” que silenciou famílias por décadas.
Ainda estou aqui conecta as gerações mais jovens a este legado, com inúmeros relatos emocionantes de filhos de presos políticos que compartilham as histórias no TikTok. Com forte repercussão nas redes sociais, a obra reacende o debate sobre os horrores do regime militar e a necessidade de se enfrentar o passado, especialmente neste momento quando o Brasil revisita os erros históricos diante de nova tentativa golpista, ocorrida em 8 de janeiro de 2023.
O sucesso internacional do filme e a crescente visibilidade no Brasil coincidem com um momento político crítico: o retorno da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, que revisita os crimes da ditadura. O filme é mais do que a recriação de traumas familiares, é reflexo de um Brasil que não quer esquecer um passado assustador e recente. Ainda Estou Aqui emociona, provoca e questiona a ideia de "seguir em frente" sem reparar os erros de outrora. É um grito por justiça, por entender que, para a democracia amadurecer, é preciso olhar para o que foi deixado para trás.