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Mundo cão nas apostas do futebol 

No artigo, o cineasta, diretor teatral, poeta Carlos Pronzato trata sobre as apostas esportivas.

O obscuro submundo das apostas esportivas voltou a aparecer na superfície do quotidiano do futebol. O caso de Lucas Paquetá, jogador do West Ham, da Inglaterra, denunciado pela Federação Inglesa, alegando que ele forçou cartões amarelos no intuito de beneficiar apostadores em partidas do seu time, traz à tona a velha questão da incidência das apostas no nebuloso mundo do futebol.


O caso não é isolado e se soma a muitos outros em diversos países, alguns emblemáticos como os acontecidos na Itália, jogadores combinando resultados para facilitar apostas. Só para citar alguns, em 1980, esse país mergulhou no escândalo conhecido como Totonero, a revelação de uma série de partidas que foram manipuladas e por causa disto Milan, Lazio, Avellino, Bologna e Perugia foram rebaixados como punição. Outro escândalo famoso foi o Calciocaos, um gigantesco esquema de manipulação de resultados que envolveu Milan, Fiorentina, Juventus, Lazio e Reggina. As punições para os envolvidos foram pesadas. A Juventus, por exemplo, perdeu o título italiano e foi rebaixada à segunda divisão. Em 2011, o defensor Simone Farina recebeu uma oferta de 200 mil euros para manipular o resultado de seu time. O jogador, porém, recusou o suborno e denunciou o caso às autoridades. Em 2012, Andrea Masiello admitiu, após ser preso, que fez propositadamente gol contra, quando atuava pelo já rebaixado Bari no clássico com o Lecce. O resultado por 2 a 0 evitou a queda da equipe vitoriosa à segunda divisão.


Estes são apenas alguns dos casos mais conhecidos (a quantidade de casos pode chegar aos milhares) envolvendo a máfia das apostas, irreparável dano que esta causa àqueles milhões de pessoas que acompanham os jogos com genuína e transparente paixão pelos seus clubes de coração. Além das atitudes evidentes, fáceis de corroborar, há muitas outras de difícil percepção, mínimas, como desacelerar uma corrida, não antecipar no momento exato, errar propositadamente um passe, um lateral, um escanteio, um pênalti! Como detectar tudo isto? Há um VAR para esta situações? Em que medida a explosão das apostas continua mudando os resultados de partidas e campeonatos? Sabemos que o mundo do futebol, como o da política institucional, é viciado em corrupção e ainda assim, sobrevive.


Na terça-feira passada o Ministério da Fazenda publicou uma portaria de regulamentação das empresas de apostas no Brasil, mas como inibir a lavagem de dinheiro e a manipulação de resultados? Os estádios de futebol, hoje faustosas arenas capitalistas, se transformaram em casas de apostas, onde apesar de tudo isto, ainda bate a emoção dos torcedores, o único que sustenta - como o voto na política institucional -, toda esta imensa corrupção.


*Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta, escritor e sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia