A exaustão que ninguém vê
Burnout racial é a face invisível de um sistema que suga a energia de quem já carrega o peso de sobreviver em um país que ainda lucra com o racismo. Pessoas negras adoecem mais, desistem mais, morrem mais, e, mesmo diante dos números, continuam tratadas como exceção em debates sobre saúde mental.
Por Camilly Oliveira
Burnout racial é a face invisível de um sistema que suga a energia de quem já carrega o peso de sobreviver em um país que ainda lucra com o racismo. Pessoas negras adoecem mais, desistem mais, morrem mais, e, mesmo diante dos números, continuam tratadas como exceção em debates sobre saúde mental. Estudo da Universidade de Harvard revela que 30% dos estudantes e profissionais negros da Medicina enfrentam o esgotamento extremo, contra 18% dos brancos, escancarando o abismo que a sociedade insiste em ignorar.
O esgotamento racial é mais do que cansaço, é viver em estado de guerra permanente, no qual cada passo precisa ser calculado para não ser confundido com ameaça. Negros não adoecem só pelo excesso de trabalho, mas pela vigilância implacável, silenciamento diário, e a necessidade cruel de provar cem vezes o que brancos demonstram em apenas uma.
Jovens negros no Brasil têm 45% mais chances de cometer suicídio, alerta o Ministério da Saúde, mas o luto se repete como rotina invisível. Falar de burnout racial é falar de sobrevivência, é denunciar um sistema que mata devagar, sob aplausos civilizados. A luta contra este esgotamento é a luta pela própria existência.