Afinal, o agro é pop
O Brasil rural sangra enquanto o agro desfila de cabeça erguida nos salões do poder. Por trás dos lucros estratosféricos, de R$ 2,72 trilhões no ano passado, o campo se transforma em zona de guerra. Os conflitos por terra explodiram, mostrando rastros de sangue nas áreas onde o agronegócio avança como um rolo compressor.
Por Camilly Oliveira
O Brasil rural sangra enquanto o agro desfila de cabeça erguida nos salões do poder. Por trás dos lucros estratosféricos, de R$ 2,72 trilhões no ano passado, o campo se transforma em zona de guerra. Os conflitos por terra explodiram, mostrando rastros de sangue nas áreas onde o agronegócio avança como um rolo compressor.
A CPT (Comissão Pastoral da Terra) confirma que as regiões com maior expansão da soja, gado e grilagem concentram também os assassinatos, ameaças e despejos forçados.
Só no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foram 415 conflitos fundiários em 2024, número que escancara o projeto de extermínio das comunidades tradicionais. A CPT identificou que 62% dos assassinatos no campo ocorreram onde o latifúndio se impõe à bala.
A cada hectare de soja, uma história de expulsão. A cada boi engordado, uma casa incendiada. Na Bahia, a violência tem nome, rosto e endereço: o sul do estado, onde a indígena Nega Pataxó e mais duas lideranças do povo Pataxó Hã-hã-hãe foi morta no ano passado por ruralistas com o apoio da PM (Polícia Militar). O silêncio das instituições é cúmplice.
Enquanto o agro cresce sob aplausos e isenções fiscais, o povo do campo é intoxicado por agrotóxicos e sufocado por cercas. O relatório da CPT ainda aponta que os incêndios em áreas de conflito dobraram, o desmatamento ilegal disparou e a contaminação por veneno explodiu: foram 276 casos.
O Maranhão lidera o ranking, mas a Bahia segue firme no pelotão. O campo brasileiro vive um apartheid territorial, onde o lucro do latifúndio vale mais que a vida dos povos. É guerra, mas só vemos um lado morrer.