Datas históricas de março

Março é um mês de memória e confronto. No dia 15, quatro décadas atrás, o Brasil encerrava oficialmente a ditadura militar com a eleição indireta de Tancredo Neves, que morto em 21 de abril possibilitou a posse do vice José Sarney.

 

Uma transição negociada, sem justiça para os torturados, sem reparação para os mortos, mas que abriu caminho para o voto popular e a retomada dos direitos políticos.

 

A democracia voltou incompleta, sob vigilância dos mesmos interesses que sustentaram o regime, mas a luta popular garantiu avanços que hoje seguem sob ataque.

 

Março também marca a criação da Carteira Trabalho, em 1932, pelo então presidente Getúlio Vargas. Um fato histórico que formalizou as relações trabalhistas, enquanto a ONU, anos depois, em 1966, escolheria a mesma data para marcar o combate à discriminação racial. Apesar disto, a estrutura racista do país ainda define quem tem direitos e quem segue explorado. 

 

A carteira assinada nunca foi garantia de justiça para todos e o mercado continua excluindo negros e pobres, reafirmando que direitos trabalhistas e luta antirracista estão do mesmo lado.

 

Ainda em março, no dia 22, em 1980, morria Hélio Oiticica, um dos criadores da Tropicália, deixando um legado de insubmissão, que desafiou a censura e a ordem imposta pelos generais de plantão, convertendo arte em insurgência e revolução. A estética suja e rebelde foi resposta direta à caretice do reacionário regime militar e ao conformismo burguês.

 

Quando tudo era proibido, criar virou resistência. O Brasil que saiu da ditadura civil-militar (1964-1985) foi empurrado por quem recusou o silêncio e usou a cultura como munição.

 

Democracia, direitos trabalhistas, luta racial e arte como arma. A história prova que concessões vêm a conta-gotas, lentas, mas retrocessos acontecem em um piscar de olhos. Quem esquece, repete. Quem combate, resiste.