Entrevista - Andréia Sabino: "rentismo ameaça a democracia"

Empossada no último sábado (11/01), a nova presidenta da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Andréia Sabino Macedo, diz que, pelo imenso poder econômico que concentra, o sistema financeiro desequilibra a relação de força na democracia, em prejuízo da classe trabalhadora.

Por Rogaciano Medeiros

Empossada no último sábado (11/01), a nova presidenta da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Andréia Sabino Macedo, diz que, pelo imenso poder econômico que concentra, o sistema financeiro desequilibra a relação de força na democracia, em prejuízo da classe trabalhadora.
Formada em Comunicação Social pela Unibahia, Andréia Sabino começou como jovem aprendiz no Banco do Brasil, onde ficou de 1987 a 1989. Em 1990 foi contratada pelo Itaú, onde está até hoje. É bancária há 35 anos.

 

O Bancário - Como você se sente sendo a primeira mulher a presidir a Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe?

Andréia Sabino - Me sinto extremamente orgulhosa de presidir uma instituição tão importante, que sempre lutou em defesa dos direitos dos trabalhadores e com tanta representatividade junto às instituições financeiras, governo e sociedade. A Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe sempre atua de forma exemplar, tem na sua composição sindicatos fortes e atuantes, sempre saiu na frente e por isto é tão relevante nacionalmente.

 

O Bancário - Quais os principais desafios da Federação na nova gestão?

Andréia - Temos muitos desafios, estamos passando por um momento de total transformação no setor bancário. Nem a eletricidade promoveu mudanças tão bruscas em tão pouco tempo, as pessoas mudaram a forma de consumo e consequentemente a relação com o sistema financeiro mudou muito. Vamos precisar correr para acompanhar. Esta mudança não é uma escolha é uma necessidade e vamos fazer isto com certeza. 

 

 O Bancário - É possível você apontar um fato positivo do movimento bancário que precisa ser mantido e um negativo que necessita de mudança de rumo?

Andréia - Um fato extremamente positivo é a nossa capacidade de negociação, sabemos ouvir a base, sabemos traduzir os anseios da categoria e temos representatividade para buscar soluções. Uma mudança de rumo é saber como nos comunicar melhor com os trabalhadores que estão nos bancos digitais, precisamos ouvir e saber como podemos defender os direitos desses trabalhadores que estão trabalhando sem os direitos trabalhistas, com carga horária desumana e com pressão de metas. 


O Bancário - Quais as prioridades da categoria no momento?

Andréia - Reduzir o adoecimento causado por um ambiente de estresse, de metas abusivas, assédio moral, assédio sexual e violência psicológica por medo das demissões. Precisamos colocar a saúde dos trabalhadores em primeiro lugar. 

 

O Bancário - O que fazer para conter os danos da inteligência artificial sobre a categoria, já tão prejudicada com demissões resultantes da automação?

Andréia - Esta é a pergunta de milhões de dólares. Ninguém tem essa resposta, sabemos que a IA (Inteligência Artificial) já conseguiu levar muitos dos nossos empregos e sabemos também que isso não vai parar por ai, já temos 90% das transações bancárias na nuvem e isso já é a nossa realidade. 

 

O Bancário - O sistema financeiro pode ser incluído entre as forças políticas da sociedade que ajudam a pôr em risco a democracia no Brasil? 

Andréia - Sim.  Sem dúvida o sistema financeiro pode exercer influência na política significativamente, devido a concentração do poder econômico. Grandes bancos e financeiras podem financiar candidatos com muito poder para direcionar os seus interesses e isso é algo extremamente perigoso, pois desequilibra a correlação de forças na democracia. Infelizmente, os representantes dos trabalhadores não têm o mesmo poder econômico e isto causa um grande desequilíbrio na democracia.