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Quem vem para a Univasf?

Artigo "Quem vem para a Univasf? Os desafios da evasão, retenção e não preenchimento de vagas", de Danielle Dantas, Josenice Gonçalves, Lícia Nascimento, Márcia Silva e Marcelo Ribeiro.

A Pró-Reitoria de Ensino (Proen) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), por meio da Coordenação Pedagógica/Proen, vem executando o projeto “Vem pra Univasf”, que consiste em apresentar aos estudantes dos terceiros anos do ensino médio os cursos de graduação da Univasf a sua forma de ingresso, além de apresentar as políticas de permanência e um pouco da infraestrutura da instituição. Trata-se de uma ação de suma importância para o ensino superior, principalmente ao considerar os desafios da evasão, da retenção e do não preenchimento de vagas no âmbito da própria Universidade. 

 


Esses desafios mostram que chegou o momento de as universidades, sobretudo as públicas, saírem de suas “zonas de conforto” e serem mais proativas na obtenção de novos estudantes, estabelecendo contato com os jovens ainda no ensino médio, para, em um processo de convencimento, mostrar que a universidade pode ser importante para as suas vidas.

 


Mesmo considerando algumas restrições, como a abrangência das visitas circunscritas aos campi de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE)  e as dificuldades de recursos e integração setorial para que as ações pudessem envolver mais pessoas, principalmente mais escolas e, consequentemente, mais estudantes do ensino médio, esse projeto pode ser considerado como exitoso. Em sua última edição (2ª edição realizada em 2023), durante os cinco dias de execução do projeto, mais de 800 alunos, de 16 escolas, visitaram os campi Sede (Petrolina e Juazeiro), incluindo aí visitas em laboratórios de anatomia, práticas cirúrgicas, semiologia, farmacologia e demais espaços dos cursos de engenharia. Além disso, houve visita à biblioteca, ao restaurante universitário, ao complexo de educação física, ao ateliê de artes e ao bloco de salas de aula. Embora essas ações possam aparentar singelas há, contudo, indicações da efetividade no que diz respeito ao proporcionar aos visitantes informações sobre a universidade e os cursos, além de suscitar interesse em viver a experiência universitária. 

 


Sabemos que os fenômenos da evasão, da retenção e do não preenchimento de vagas têm origens diversas, como o próprio contexto de um “mundo líquido” marcado pelas incertezas e imediatismos dos resultados e a crise do mundo do trabalho, contribuindo para que o jovem não insira em seu projeto de vida a formação do ensino superior. Por isso, vez por outra, pode-se ouvir falas do tipo: “Para que estudar se eu posso ganhar muito mais dinheiro sendo um youtuber?”, “Eu?! Passar cinco anos na universidade e depois ficar desempregado?! Para que se formar?”.

 


No contexto brasileiro é possível acrescentar os ataques que as universidades sofreram nos últimos anos por conta de um governo negacionista, que disseminou diversas fake news e maculou a imagem da universidade, sobretudo das instituições públicas. “Nas universidades só tem vagabundo”, “nas universidades os alunos fazem bacanal e plantam maconha” e outras coisas do tipo, era o que se dizia.

 


Alinhado a isso tudo não se pode perder de vista que a situação da pandemia intensificou a evasão, a retenção e o não preenchimento de vagas, por meio dos impactos negativos na saúde mental e no empobrecimento da população.

 


Há que se pontuar, tendo um peso indelével, justamente a questão do empobrecimento da população com a consequente necessidade dos jovens trabalharem. Isso certamente contribuiu para agravar os quadros de evasão, retenção e não preenchimento de vagas nas universidades. 

 


De acordo com o site do Observatório de Educação, Ensino Médio e Gestão, do Instituto Unibanco (https://observatoriodeeducacao.institutounibanco.org.br/ ), que apresenta dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), 47,3 milhões de brasileiros terminaram o ano de 2021 na pobreza, o equivalente a 22,3% da população total. Nesse mesmo site há apresentação de um estudo promovido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional demonstrando a correlação entre insegurança alimentar e escolaridade. Quanto menor a escolaridade maior é o nível de insegurança alimentar.

 


Sabendo que os desafios da evasão, da retenção e do não preenchimento de vagas são de ordens complexas, não se pode perder de vista alguns aspectos que atuam nesses desafios e que têm relação com os currículos engessados, as relações pouco dialógicas e excludentes dos professores, não favorecendo a um ambiente de segurança psicológica, e mesmo as estruturas da instituição pouco convidativas para os estudantes. 

 


Longe de esgotar as reflexões sobre as ações proporcionadas pelo projeto “Vem pra Univasf”, é importante considerar, numa política de incentivo ao ensino superior, as especificidades das escolas: escola pública, escola privada, escola em tempo integral, escola pública da periferia. Há que considerar as especificidades desses públicos de modo a ter uma atuação mais efetiva, até porque são jovens oriundos de famílias com condições variadas (condições sociais, econômicas, valores que as famílias depositam nos estudos...) e mesmo a “dinâmica” entre essas famílias e as escolas.

 


No caso das regiões de Petrolina e Juazeiro, uma quantidade significativa de alunos mais abastados e preparados indicam querer sair da região e estudar fora. Daí, talvez, isso leve a pensar no público-alvo que precisa ser mais focado em um trabalho de incentivo ao ensino superior, ou seja, são estudantes que tendem a ficar na região, os que não conhecem a Univasf… portanto, possível público prioritário do projeto.

 

 

Dificuldades encontradas e sugestões de melhorias em relação ao projeto “Vem para Univasf”:

- A falta de adesão e postura inadequada e constrangedora por parte de um professor.
- É necessário que esse projeto seja visto como prioritário pela instituição, considerando o não preenchimento de vagas como também alto índice de evasão, e seja “abraçado” por toda a Univasf – um evento geral, intersetorial.
- É necessário que os estudantes e mesmo os egressos também se envolvam, tendo participação ativa nas atividades
- Reunião prévia com os setores, inclusive na própria PROEN
- Integrar com a feira das profissões
- Necessidade de um trabalho de comunicação institucional
- Envolver os demais campi

 

Pontos a serem realçados:
- Os técnicos de laboratórios têm uma participação especial e foram fundamentais para o êxito do projeto.
- A participação dos monitores (estudantes) também foi muito importante

 

*Danielle Santiago Câmara Dantas, Josenice Barbosa Gonçalves, Lícia Regina Gonzaga do Nascimento, Márcia Andréa de Souza Silva e Marcelo Silva de Souza Ribeiro, são os autores deste artigo.