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Quem quer dinheiro?

No artigo, o cineasta, diretor teatral, poeta e escritor Carlos Pronzato faz uma análise sobre a história do ultra popularíssimo Silvio Santos, que faleceu no sábado, 17 de agosto, aos 93 anos.

Dentre todos os quadros televisivos da TV brasileira, o que sempre me impactou, por inúmeros motivos, foi justamente este, o do título deste artigo, um dos mais festejados quadros da saga do descomunal apresentador Senor Abravanel, o ultra popularíssimo Silvio Santos, falecido neste sábado, 17 de agosto, aos 93 anos. Qual seria a diferença se este famoso número quase circense dos programas de auditório, com um domador carismático e vistoso microfone no paletó, a agradar e divertir o seu público amestrado com seu doce chicote de notas feitas aviãozinhos, fosse realizado numa praça qualquer de uma grande cidade, numa rua de intenso trânsito matinal, ou perto de um estádio de futebol num domingo de clássico paulista? Eu direi, a única diferença seria o cenário, um estúdio de deslumbrante fantasia que amplifica aos milhões o formidável número televisivo do exímio comunicador que aprendeu sua arte entre os camelôs. Mestre da comunicação popular contemporânea, que atravessou incólume o percurso deste invento que incrementou o poder do rádio, desde as épocas da TV dos raios catódicos, passou pela era moderna e se instalou ainda nos dias de hoje sem perder um ápice de popularidade e pioneirismo.

 


Certamente devem existir inúmeras teses sociológicas acadêmicas sobre a incidência no olhar e na psique popular do longo percurso de Silvio Santos na indústria televisiva tupiniquim, que só interrompeu as gravações ao vivo em 2022, quando a cara visível do seu império midiático da SBT - criação possibilitada pela ditadura militar - foi assumida pela própria família. 

 


Sem querer avançar em detalhes no espinhento terreno da sua face política conservadora, rasgo espalhado no empresariado nacional, a sua disputa jurídica com outro enorme personagem, o encenador teatral José Celso Martinez Correia (falecido ano passado) na agressão especulativa imobiliária contra o terreno ao lado do incontornável Teatro Oficina, na tentativa de construir prédios de 100 metros de altura pelo Grupo Silvio Santos, restarão pontos de sensibilidade social e cultural ao seu extenso currículo do império da alegria.

 


Felizmente, o Ministério Público e a Prefeitura de São Paulo anunciaram acordo em dezembro passado, depois de décadas de briga e o terreno finalmente será palco do Parque Bixiga, triunfando a cultura sobre o dinheiro pelo menos desta vez.

 


Mas este infeliz episódio do seu grupo empresarial não apagará o carimbo insubstituível do Silvio Santos no povo brasileiro que durante décadas viu seu ídolo eternamente sorridente abrir a porta da esperança e, conhecendo absolutamente o interesse básico da sua plateia de milhões de brasileiros, soltar no ar seu bordão mais popular: Quem quer dinheiro?   

 


*Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor