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O Autismo na fase adulta

O artigo da pedagoga, que atua como presidente e coordenadora pedagógica da Associação Projeto Fantástico Mundo Autista, Patrícia  Teodolina, aborda os aspectos que levam á independência das pessoas que têm o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista.

A Infância passa e tudo muda: o corpo, as relações. as necessidades, os interesses, as expectativas. A independência é um fator preponderante e conhecer as regras do jogo social é imprescindível para concordar com elas ou propor alterações e nisso se dá a autonomia. Por isso, que é exatamente na vida adulta que reclamamos tanto o direito à cidadania plena. Neste objetivo estão envolvidos o trabalho, a sexualidade, a religiosidade, a moradia, a política, a educação, a mobilidade social, o acesso à saúde e o próprio crescimento econômico.


Contudo, como todas essas buscas se apresentam à Pessoa com Deficiência; em especial, àqueles que têm o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista, que é um transtorno muito diverso por si só?


Quantas pessoas com autismo você conhece? Quantas delas trabalham? Quantas são casadas? Quantas você conhece que participam da igreja, do templo, do terreiro; enfim, da comunidade religiosa que você pertence? E quantos atuam na posição de líderes desses espaços: quantos são padres, pastores, mães-de-santo? Quantos vereadores ou deputados são autistas que você conhece? Quantos médicos, professores ou juízes autistas você conhece? Na padaria, no mercadinho, na farmácia de seu bairro, de sua rua, tem algum autista trabalhando?


Algum gari que limpa a sua rua é autista? Na última balada que você foi, reconheceu algum autista? No teatro? No cinema? Já foi a um barzinho e viu uma mesa só de autistas?
Não?


Não é estranho que 1% da população seja autista conforme declara a ONU e nós não os vejamos a não ser quando são crianças? São dois milhões de autistas no Brasil e aproximadamente 150 mil na Bahia? Cadê eles?


Por que são invisibilizados quando crescem?


Alguns fatores justificam esse ostracismo: a precária inclusão escolar, a oferta restrita à intervenção precoce, os mitos sobre a pessoa com autismo (agressividade, indiferença, genialidade entre tantos outros), ausência de campanhas informativas sobre o autismo e as potencialidades dos autistas, pouquíssimas oportunidades de inclusão profissional – imagine que são aproximadamente 13 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, mas apenas 1% desse público trabalha e o número de autistas nesse grupo é ínfimo. São apenas algumas das razões.


Em síntese, a ausência dessas pessoas em nosso meio acontece porque nós fazemos questão de criarmos um mundo à parte, onde a diversidade está exclusa. Somos afeitos a ilusões e uma delas é achar que todos somos iguais. Não somos. Nós temos os mesmos direitos. A diversidade existe, se impõe e a cada dia exige o direito ao seu lugar. O nome disso é justiça social. Enquanto ela não for respeitada não haverá a tão sonhada paz, pois como disse o grande Luther King: “a injustiça em um lugar qualquer ameaça a justiça em todo lugar”.


É hora de mudar! Comece por você: olhe para a pessoa e não para o autismo, pois como diz a Dra Claudia Mascarenhas do Viva Infância: quando seu olhar muda, tudo muda!


* Patrícia  Teodolina é pedagoga, especialista em neuropsicologia, pós graduanda em psicopedagogia, gestora social, atua como presidente e coordenadora pedagógica da Associação Projeto Fantástico Mundo Autista, tem prática pedagógica há 7 anos com alunos com TEA e é bancária da Caixa