O abominável negacionismo dos banqueiros
No artigo, o presidente em exercício do Sindicato dos Bancários da Bahia e membro do Comando Nacional dos Bancários, Elder Perez, mostra a situação da saúde dos bancários e o que é negado pelos bancos.
No último dia 25, na negociação sobre saúde, os bancos negaram que o trabalho bancário adoece. São muitos dados, estudos, pesquisas e depoimentos mostrando a gravidade da situação na categoria.
Os bancários representam menos de um por cento (0.8%) dos trabalhadores formais do Brasil, no entanto, respondem por cerca de 25% dos afastamentos por doenças mentais e comportamentais junto ao INSS. O percentual mais do que dobrou em 10 anos. Entre 2015 e 2020, o índice de afastamentos nos bancos cresceu mais de 26%, enquanto que no geral a variação foi de 15,4%. Nos afastamentos previdenciários (B31) da categoria, as doenças mentais saíram de 23% em 2012 para 40% em 2022. Já nos afastamentos acidentários (B91), as doenças mentais e comportamentais deram um salto de 30% em 2012 para 57% em 2022 e as doenças nervosas saíram de 9% para 15% no mesmo período.
Outros transtornos ansiosos passaram a constar de forma crescente como uma das causas de afastamentos acidentários da categoria, aparecendo com 10% em 2016 e mais do que dobrando em 2022, com 23%. Estes são apenas alguns dados de órgãos oficiais que demonstram o agravamento do trabalho bancário para a saúde.
Em pesquisa anual realizada na categoria, em 2024 mais de 40% dos bancários responderam que fazem uso de medicação psiquiátrica. O índice aumenta a cada ano. As doenças mentais mais comuns são os transtornos ansiosos e depressivos e a Síndrome de Burnout (classificada como doença ocupacional pela OMS desde 2022). O nexo causal estabelece a relação entre a patologia e a atividade laboral.
As metas estabelecidas são nocivas na quantidade; no excesso; na forma de cobrança; no ranqueamento discriminatório e, principalmente, nas consequências geradas pelo não atingimento. Não à toa, os bancos justificam várias demissões por falta de “performance”.
A literatura sobre Burnout aponta 4 fatores de risco que, estando presentes no ambiente de trabalho, favorecem ao surgimento da Síndrome. São eles: carga de trabalho excessiva, constantes mudanças no trabalho/tecnologia, contato constante com indivíduos, pressão excessiva. Todos estão presentes na atividade bancária.
Diante dos fatos, evidências e amparados na realidade, exigimos seriedade e respeito da Fenaban na mesa de negociação.
*Elder Fontes Perez – Psicólogo Clínico e Organizacional. Presidente em exercício do Sindicato dos Bancários da Bahia e membro do Comando Nacional dos Bancários