A lenta marcha da paridade de gênero
Para superar o problema, é preciso uma mudança profunda, bem além das cotas e dos fundos eleitorais, demandando reformulação cultural e estrutural dentro dos partidos. Sem o fortalecimento da presença de mulheres em cargos decisórios das executivas partidárias, as barreiras internas que limitam as oportunidades de crescimento e visibilidade persistem.
Por Camilly Oliveira
A presença feminina na política brasileira avança a passos lentos, revelando o desequilíbrio estrutural do sistema eleitoral. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nas eleições de 2024 apenas 18% dos eleitos para as câmaras municipais foram mulheres, um aumento de 2% em relação aos 16% alcançados em 2020.
Nos cargos executivos, a situação permanece crítica, 13% das prefeitas eleitas este ano representam aumento de 1% em comparação aos 12% de quatro anos atrás. Estes dados evidenciam a fragilidade das políticas de incentivo à participação feminina que, embora essenciais, não têm gerado mudanças significativas.
A discrepância entre a participação das mulheres e a aplicação das cotas eleitorais mostra o tratamento superficial dado à questão de gênero pelos partidos políticos. Desde 2009, a legislação obriga as legendas a destinarem 30% das candidaturas a mulheres e, desde 2018, a distribuir o mesmo percentual do fundo eleitoral para campanhas femininas.
No entanto, a efetividade é questionável, muitas siglas apenas cumprem os requisitos mínimos, sem incentivar a formação de lideranças femininas preparadas para concorrer em pé de igualdade.
Para superar o problema, é preciso uma mudança profunda, bem além das cotas e dos fundos eleitorais, demandando reformulação cultural e estrutural dentro dos partidos. Sem o fortalecimento da presença de mulheres em cargos decisórios das executivas partidárias, as barreiras internas que limitam as oportunidades de crescimento e visibilidade persistem.