Quem ganha menos, doa mais

A realidade é clara, os mais pobres doam mais do que os ricos. Este é um reflexo gritante da falha estrutural do Brasil em combater a desigualdade. Pesquisa da Quaest mostra que 78% das famílias com renda de até dois salários mínimos fizeram doações no ano passado, enquanto entre os mais ricos, com mais de 20 salários, o número cai para 57%.

Por Camilly Oliveira

A realidade é clara, os mais pobres doam mais do que os ricos. Este é um reflexo gritante da falha estrutural do Brasil em combater a desigualdade. Pesquisa da Quaest mostra que 78% das famílias com renda de até dois salários mínimos fizeram doações no ano passado, enquanto entre os mais ricos, com mais de 20 salários, o número cai para 57%.

 


Não é questão apenas da disparidade econômica, mas também da indiferença da elite, que prefere acumular riquezas ao invés de contribuir para o bem-estar coletivo. A caridade, no Brasil, é feita majoritariamente pelas camadas médias da população, enquanto os mais abastados se abstêm da responsabilidade social.

 


A ausência de políticas públicas eficazes faz com que a solidariedade seja um fardo colocado nas costas dos mais pobres. Quem vive na miséria sabe que o Estado falha em prover o mínimo necessário para a dignidade humana. Por isto, aqueles que têm pouco se sentem obrigados a doar para quem tem menos ainda. 

 


Em um país onde 62% das pessoas priorizam a fome como principal causa dos que doam, a doação não é luxo, é sobrevivência. Enquanto isto, os poderosos, que poderiam mover montanhas com suas fortunas, preferem doar esporadicamente, sem comprometimento real com mudanças estruturais.

 


No Brasil, os mais ricos preferem o acúmulo à redistribuição. A falta de incentivos legais para a filantropia revela o descaso com o terceiro setor, e quem acaba sustentando esta estrutura são os pobres, que doam por necessidade de apoiar seus iguais, enquanto os endinheirados permanecem blindados em suas bolhas de privilégio.