Absurdo social: 160 mil pessoas em domicílios improvisados

As 57 mil pessoas que vivem em tendas e barracas mais as 14,5 mil em logradouros públicos são vítimas de uma cruel indiferença. O mercado, alimentado pela ganância, ignora a função social da propriedade, resultando em um abismo cada vez maior entre ricos e pobres. 

Por William Oliveira

É inaceitável que em um país com milhões de imóveis vazios, 160 mil brasileiros e brasileiras sejam forçados a viver em tendas, barracas e veículos, conforme revelado pelo Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 


Este dado expõe, sem meias palavras, a perversidade de um sistema no qual o direito básico à moradia é transformado em mercadoria sujeita à especulação imobiliária. Enquanto o grande capital lucra com imóveis que ficam desocupados à espera de valorizações, seres humanos enfrentam o frio e a fome sob pedaços de plástico e em construções degradadas.


As 57 mil pessoas que vivem em tendas e barracas mais as 14,5 mil em logradouros públicos são vítimas de uma cruel indiferença. O mercado, alimentado pela ganância, ignora a função social da propriedade, resultando em um abismo cada vez maior entre ricos e pobres. 


E, como se não bastasse a exclusão habitacional, estes brasileiros enfrentam taxas de analfabetismo: 22% dos moradores de tendas e barracas não sabem ler ou escrever, uma vergonhosa consequência de uma sociedade que os abandonou.


Este quadro torna-se ainda mais revoltante quando observamos que, ao mesmo tempo, mais de 830 mil pessoas vivem em domicílios coletivos, como penitenciárias, asilos e abrigos. O Brasil não tem um problema de falta de espaço, mas sim de uma política habitacional sequestrada pelos interesses do mercado imobiliário, que transforma o direito à moradia em privilégio.